domingo, 18 de outubro de 2009

EDUCAÇÀO JESUÍTICA QUINHENTISTA BRASILEIRA:

Revista HISTEDBR On-line Artigo
Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.22, p. 26 –38, jun. 2006 - ISSN: 1676-2584 26
EDUCAÇÀO JESUÍTICA QUINHENTISTA BRASILEIRA: A RELAÇÀO ENTRE
COLÉGIO E CORTE COMO VEÍCULO DE CULTURA E PODER.
Wagner Montanhini1
Universidade Estadual Paulista
Unesp/ Rio Claro.
RESUMO:
A formação da cultura brasileira no século XVI é o objeto deste artigo. A maneira pela
qual se toma o objeto e o qual analisamos é o educacional, em seu sentido maior de
significado. Nos dedicamos a analisar todo um réquiem de instrumentalidade que cercava o
cultural da educação jesuítica em terra brasilis. O que queremos primeiramente é analisar
a cultura da Corte portuguesa, o seu modo de ser que se regia pela manifestação da
sacralidade da sociedade. Posteriormente, nos deteremos nos meios pelos quais a educação
da Companhia de Jesus se rendia ao prestar auxilio aos interesses maiores da monarquia: a
sua dimensão hierárquica, uma modernidade com seus limites e a racionalidade em seus
detalhes.
Palavras-chave: educação; Corte; cultura; Jesuítas.
BRAZILIAN EDUCATION JESUITIC CINQUECENTIST: THE RELATION
BETWEEN COLLEGE AND COURT AS VEHICLE OF CULTURE AND POWER.
ABSTRACT:
This paper aimed to study the formation of the Brazilian culture in the 16th century. The
subject of study, i.e. the culture formation, is herein broadly analyzed from an educational
standpoint. The culture of the Portuguese court and the sacred aspect ruling society is also
discussed along the article. The author analyzes how the Roman Catholic Society of Jesus
served the interest of the Portuguese monarchy with its hierarchic dimension, ideas of
modern times with imposed limits and rationality. Finally, the author pinpoints the
Jesuitical education as the main base of the Portuguese culture in Brazil.
Key-words: education; Court; culture; Jesuit.
O sentido que quero dar a este artigo diz respeito a formação da cultura
brasileira e nela o tom de nosso trabalho de reflexão: qual o papel da educação jesuítica no
Brasil do século XVI ? Poderíamos muito bem nos atermos em dizer se nos
aprofundássemos um pouco mais, em conhecer os colégios da Companhia de Jesus
mediante uma observação atenta de tudo o que envolve o seu sistema pedagógico e
curricular. Contudo, diante de uma falta de fontes primarias referentes para certos pontos,
viso abordar o tema sob o ponto de vista da cultura trilhando o seguinte raciocínio: de que
maneira se regia a dimensão de poder cultural da educação jesuítica? Dessa forma quero
dizer que a mesma, além de dar a educação ao jovem no que se refere aos conhecimentos
creditados pela sociedade da época, possuía ainda o feito de ser um importante pilar da
cultura portuguesa dominante, como fonte transmissora e mantenedora do ideal da Corte
instaurado ( PAIVA, 1988 ).
Com isso nos lançamos diretamente nos seguintes questionamentos.
Primeiro: qual a essência maior dessa cultura da Corte? E numa segunda questão proposta:
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o que de importante se presenciava na educação da Companhia de Jesus que, para a Corte,
ela era o modelo que perfazia a excelência de educação?
Um primeiro aspecto a ser visto se delineia no estudo da cultura portuguesa
quinhentista. Procurarei me ater num aspecto relevante para o estudo em questão: a
chamada estrutura cultural; o universo das representações que dão uma identidade certa
tanto às pessoas como às coisas. Dela me refiro propriamente a sociedade portuguesa que
se fez de séculos de vivencia, à luz do entendimento cristão de mundo.
Ao nos questionarmos sobre a cultura portuguesa quinhentista, nos
questionamos primeiramente sobre o modo de ser que embala todo um corpo social em
suas vivências. Ir a fundo em seu entendimento histórico nos permitirá uma amplitude
maior para entender a forma de ser do português , tanto na metrópole, quanto na colônia e
em especial, nas circunstâncias novas da Vila de São Paulo do Campo, bem como o
sentido da estrutura social que ali se fazia2
O entendimento histórico-cultural de uma sociedade implica entender o
funcionamento da dinâmica social no seu interior e, com ela, as composições que se
praticavam no mundo colonial, bem como a forma de ser português no novo meio. Em
razão disso, é que temos Marshall SAHLINS afirmando que “o problema agora pertinente
é o de explodir o conceito de história pela experiência antropológica da cultura” , para
que se multipliquem “nossos conceitos de história pelas diversidades de estruturas e,
assim, de repente há um mundo de coisas novas a serem consideradas” (1990: 94).
Tanto para o antropólogo Clifford GEERTZ (1989), quanto para o
historiador Robert DARNTON(1980), para se analisar uma cultura se faz preciso, antes de
mais nada, tomá-la em sua forma escrita, o que equivale a dizer que compreender uma
cultura é igual a ler um texto, em nosso caso, os documentos das Atas da Câmara,
revelando uma cultura do ser português nas terras coloniais.
Na esteira da compreensão dos homens da época e de toda a cultura que faz
essa formação, o nosso foco se faz ao buscar um entendimento de uma cultura portuguesa
que aqui se instalava; uma mentalidade que perfazia seu mundo de idéias e ações; o
homem que inicialmente desbravou o litoral e que aos poucos foi subindo as serras
íngremes com destemor e determinação; o homem da aventura e o homem da fé. Muitos
atuavam para que um mesmo entendimento de mundo se realizasse. Eram pessoas que aqui
estavam para experienciar um partilhar da vida em novas circunstâncias. Era um aprender
a ser itinerante.
Na cultura quinhentista portuguesa, que aqui testemunhamos nos
documentos, se presencia toda uma estrutura mental onde se revela um mundo de
representações em que vai se tecendo algo de relevante para o homem: as identidades de
tudo e de todos. Desta feita podemos dizer que:
Os dados objectivos só podem ser compreendidos no seu verdadeiro
significado, quando integrados na mentalidade que os interpretou e que
constitui uma criação específica, na escala de interesses e de finalidades
que a sociedade estabelece. As relações humanas que experimentou para
enfrentar a problemática onde cada sociedade se insere, imposta pelos seus
vizinhos, pelos seus recursos, pelos seus meios tecnológicos, pelas
propostas de vida que representam, nas formas de evidência que constroem
para os seus anseios de eternidade e razão de vida, pela finalidade que
atribuem à sua existência, pela sua ocupação do tempo, pelas relações de
produção e mobilidade social que praticam, modo como se defendem e
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vêm o seu próximo, exprimem isso que chamamos de mentalidade
(MACEDO, 1987:73)
Temos que observar que uma sociedade, aqui no caso, a portuguesa, é
construída ao longo dos séculos vinculada pela dimensão de uma compreensão viva do
cristianismo em seus passos e dias. Era esse tipo de mentalidade que estamos a ver em sua
linha conceitual “impregnada de Deus e para Ele voltada” (PAIVA, 1988: 21). Tudo se
realizava neste sentido, desde o poder do Papa e dos príncipes que se comungavam,
fazendo com que a religião marcasse a vivência geral de todos os tipos de comportamento.
Essa era a feição de uma mentalidade social regida pela alma da religião cristã, que
moldava a sociedade e notabilizava a cultura portuguesa quinhentista. Eram os séculos
XVI testemunhas viva do grande movimento das navegações e da revolução comercial
onde, ainda, mesmo assim, se marca vivamente na sociedade portuguesa a religião e sua
religiosidade em todos os atos dos homens. Um novo tipo de entendimento do mundo,
passara pelas idéias plantadas pelo Renascimento, Humanismo, com as novas descobertas
territoriais, avanços da ciência, permanecendo inalterada contudo a linguagem religiosa e
todo seu sentido semântico de ser religioso.
Para esta sociedade, tudo estava imerso pela experiência de Deus em suas
vidas e para Ele voltado. Um caminho de duas vias que se interligavam. De um lado um
mundo terreno formando uma organização social, de outro lado, perfazendo o caminho da
ordem, a hierarquia, onde as duas vias teciam o poder concentrado tanto nas mãos do Papa
como nas de El-Rei.
O contexto social vivido explicitava essa ordem, as relações de
subordinação e de hierarquia. Todos que dele participavam entendiam que assim devia ser
e assim agiam. Deus estabelecera o todo, distribuindo as competências, e cada qual se
desincumbia da função que lhe era própria, e, nessa função, exercia a parte que lhe cabia
segundo os desígnios de Deus. A função designava a posição de cada um no todo social.
Nesse universo da ordem não há uniformidade, igualdade das partes. As
partes do todo são diferentes entre si, pela posição e pela competência, a hierarquia dando
a razão das relações.
A existência no mundo da ordem cristã se regia pela magnificência da
presença atuante de Deus. Ele era, com efeito, a presença maior da vida, da criação. Ele
era quem dava, neste plano das coisas, um sentido universal. Todos tinham sua posição no
mundo. Distanciar-se de tal harmonia era bater-se contra o plano divino e sua
determinação.
a unidade dos objectivos da criação não exigia que as funções de
cada uma das partes do todo na consecução desses objectivos fosse
idêntica às outras. Pelo contrário, o pensamento medieval sempre se
manteve firmemente agarrado à idéia de que cada parte do todo
cooperava de forma diferente na realização do destino cósmico.”
(XAVIER; HESPANHA, 1993: 122)
Na dimensão do cosmos, as partes tinham suas disposições no trânsito de
criação legado por Deus, cada qual “ocupando” um lugar próprio e, nestes termos,
participando do jogo das relações. As partes, que compunham a dimensão do todo,
desempenhavam suas respectivas funções em tal universo. Ordem significava, com efeito,
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o posicionamento da parte na configuração do todo estabelecido por Deus, resultando em
uma subordinação, ou seja,implicando hierarquia:
o pensamento medieval sempre se manteve firmemente agarrado à idéia
de que cada parte do todo cooperava de forma diferente na realização do
destino cósmico. Por outras palavras, a unidade da criação era uma
“unidade de ordenação” (“unitas ordinis”, “totum universale
ordinatum”) − ou seja, uma unidade em virtude do arranjo das partes em
vista de um fim comum − que não comprometia, antes pressupunha a
especificidade e irredutibilidade dos objetivos de cada uma das “ordens
da criação e , dentro da espécie humana, de cada grupo ou corpo social”.
(XAVIER; HESPANHA, 1993:122)
As partes exprimiam o sentido coerente do todo. As partes realizavam o
sentido do divino, presença operante. O que se deve notar é que cada parte do todo
comporta uma noção forte da totalidade. A sua idéia já era uma expressão do universal. Na
composição de sua existência, na maneira de ser parte, já se situava viva, pois ela só
passava realmente a existir na junção perfeita (aqui vem a idéia de harmonia) com outras
partes, para exibir o todo, e ser o todo.
A histórica viva do universo das ações e relações humanas e do mundo de
suas instituições, se vê tocada por essa compreensão. O mundo da religiosidade não era,
como atualmente vivenciamos, um jeito de ser social. Ao contrario. Era a maneira integral
de ser de todos os comportamentos que os homens viviam. Era esse o caracterizar de uma
cultura portuguesa quinhentista que brotava no mundo das colônias, onde a “ idéia de
Império dependia da construção de uma lealdade política e estrita obediência as leis
religiosas” ( RAMINELLI, 2001:228).
Podemos ver isso em várias passagens das Atas da Câmara de São Paulo ,
por exemplo, onde tal expressividade discursiva da religiosidade estava embutida no dia-a
-dia das manifestações pessoais dos que eram parte da vida da vila.
... guarde Deus a católica pessoa de Vossa Majestade ....” (R2
02.06.1653: 379)
... e ele o prometeu fazer como Deus lh’o der a entender e como Sua
Majestade manda ... (R2 12.04.1637: .26)
... e prometeram de fazer verdade segundo Nosso Senhor lhe desse a
entender ... (AI3 06.01.1583: 199)
... dar juramento dos Santos Evangelhos ... // ... lhes foi dado juramento a
cada um per si, e pôs a mão em um livro dos santos evangelhos e que cada
um prometeu de fazer bem e verdadeiramente o seu ofício, o melhor que
Nosso Senhor Deus lhes desse a entender e guardar em seus ofícios o
segreda da justiça às partes ... (AI, 13.01.1577: 113)
Todo mundo falava em termos de religião. No interior dos discursos, se
manejava a fé. Seja para guardar a El-rei; pedir entendimento divino ao regente; fazer a
verdade; para Deus guardar os ofícios de cada trabalhador; ser o bem do povo e o temor
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circunscrito a Deus antes de qualquer ato jurídico. Tudo isso feito com naturalidade;
expressavam-se nessa linguagem, pois a presença divina era sempre parte da vida das
pessoas que faziam a vila. Fossem simples colonos ou eminentes cidadãos da coroa em
seus ofícios, tudo era regulado pela mentalidade divina em suas expressividades interiores.
Nesta passagem, as pessoas se reuniram na Câmara para a discussão de certo assunto,
contudo, Deus é o maior doador na vida de cada um:
foi posto em prática que eles todos estavam citados à petição do
almoxarife de Sua Alteza por o dízimo do peixe de nove anos a esta parte,
que porquanto eles eram libertos do pescado da cana (pesca com vara)
por o foral desta capitania ... era necessário elegerem um homem que
fosse à vila de Santos fazer com um escrivão ou os que a o caso um
requerimento ao senhor provedor de Sua Alteza que mande receber os
dízimos que até aqui são devidos que os moradores estão prestes para
pagar o que dever cada um naquilo que Nosso Senhor Deus lhe dá e que
outrossim recebam os que daqui por diante deverem .... (AI, 25.07.1576:
101)
O que podemos sentir em tal discurso é o poder da religião se manifestando
na sociedade quinhentista com uma função de justificação total. Mas em que pesava esta
justificação? No seu alto grau onde se situava o status religioso. Sendo mais nítido, em
todo e qualquer enfoque pessoal da atividade dos homens; a maneira de se justificar
galgava a ordem social vivida pelo cotidiano das pessoas, diferenciando desde senhores,
povo simples, índios e escravos. Era a religião que justificava o cerne das instituições,
adentrando em seus interiores de valores, leis, ética e moral. Era a sua manifestação única
que justificava todo o universo da ordem por onde se movia a sociedade em que ela
estivesse presente.
Mas, o que havia na educação jesuítica que a tornava intocável no plano da
Corte? Eis o ponto fundamental que nos chama a atenção em nossos estudos. Em
primeiro lugar, o princípio maior da ordem, da hierarquia como já assinalado anteriormente
por nós em termos gerais. Das Constituições que sistematizam e governam o modo de ser
da Companhia de Jesus, quanto ao Ratio Studiorum, que se liga aos estudos, o aspecto
primordial é a hierarquia. Neste sentido, a imagem da hierarquia possui como contraponto
a face da obediência a qual os súditos tinham a cultura do referenciar. Com isso montamos
as partes que formam um sistema, que já se via identificada pelo orbe da disciplina, a
paixão da Ordem pelo momento maior em que vivia s século XVI , o processo da reforma
e da contra-reforma, denotando a emergência de uma certa renovação da Igreja. Dessa
forma, a ligação se vê frente a uma visão de mundo que contempla a linha hierárquica,
legando com isso a centralização do poder, o que sustem a manutenção de toda uma
ordem estabelecida, valores que se tornam uniformes e a sua total invariância dos valores
culturais estabelecidos, das mentalidades, de tudo que se refere ao sistema de normas e
legalidade e da esfera das instituições.
Indo mais adiante, num segundo lugar, vemos que toda essa contemplação
de ordem e hierarquia da Companhia de Jesus que se vislumbrava aos olhos da Corte
pouco tempo depois da fundação da Ordem por Inácio de Loyola. Em pleno governo de
D.João III, os padres da Companhia se dão as voltas em terem presença constante e direta
no interior da Corte e buscando influencia nos negócios de Estado. No governo de D.
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Sebastião, já são detentores de um poder político forte junto a El-rei, alguns setores da
aristocracia, e ligados ao mundo educacional, o que já se pesava sob seu controle direto
(AMBIRES,2000: 34). Como é o caso da Universidade de Coimbra. A mesma não era de
origem jesuíta, mas que devido a “ uma grande animosidade entre os professores da
Universidade e os do Colégio das Artes por serem de escolas e formação diferentes “
seguido de “ acusações de heresia e o processo inquisitorial que se seguiu afugentaram os
melhores mestres da Universidade” foi dada então a “ direcção do Colégio” , iniciando
com isso “ o único movimento intelectual da Universidade que durante os séculos XVI e
XVII teve alguma audiência na Europa: o da chamada "escola de Coimbra"" (
ALBUQUERQUE, 1979) Alem disso, o que pesa para fechar o circulo ainda mais de
ligação de poder dos jesuítas, Portugal é o único Estado no meio europeu que, em sua
história, teve a presença de um monarca jesuíta – o Cardeal D. Henrique que governava
entre a morte de D. Sebastião e o inicio do domínio filipino ( 1578 a 1580)(AMBIRES,
2000: 34). Com esse fato vemos que uma estreita relação se firmava no século XVI entre
os jesuítas e a Corte (BOM MEIHY, 1982). Para o historiador português Oliveira Martins,
“ Portugal tornou-se o baluarte da Companhia, e a dinastia de Bragança, obra dela, foi o
seu melhor pupilo” (MARTINS, 1882:87) eis um dos aspectos de maior relevância para o
fato e o inicio da decadência do Império português. Dessa forma, o que se nota é uma
Companhia de Jesus se ligando ao processo de Estado em seu viés político, assumindo com
isso os brasões da difusão do Império da fé nas colônias em sua extensão (AMBIRES,
2000: 26)
Por sua vez, seria pertinente ainda salientar aqui uma terceira intenção pela
qual a Corte preferiu a Companhia de Jesus junto a si e que foi basicamente a sua forma de
organização dos estudos. A Corte se atentou rapidamente ao fato de que tais estudos eram
o vir a ser; a opção concreta que o momento oferecia para o acompanhamento da evolução
social, política e cultura que a Europa respirava. Seguindo tal discurso, vale destacar a
modernidade jesuítica, sintonizada em partes com o Humanismo literário que emergia.
Queremos dizer que as Humanidades ligada a visão jesuítica negavam a intenção maior do
período renascentista que era o da autonomia do homem, que andava ao lado do incipiente,
mas promissor , desenvolvimento da ciência, se constituindo firmemente sob os auspícios
de autoridade (Escrituras, Magistério Pontifício, Teólogos, Rei, etc). O universo da
gramática atuando com os rigores das regras sistematizadas e se ordenando como o fiel
escudeiro de uma visão de leitura do mundo social que estava em seus horizontes. A
chamada ortodoxia jesuítica estava em franca e direta relação com os moldes da Inquisição
favoreceu com grande zelo a retaguarda de uma imobilidade do pensamento e da ordem
social reinante da Corte frente a seus reinos. E um quarto viés, a qual nos propomos
observar, mas pouco tocado, diz respeito a chamada racionalidade jesuítica, presenciada
pelo rigor da forma escolástica; mais atento à análise das partes mais que à apreensão e
compreensão do todo; mais individualista do que universal; sintonizada às demandas do
comércio mercantilista, de cunho estratégico, calculista, contábil e individualista e, indo
além dele, à racionalização de todo um cunho legal e social, determinando a fiel
secularização do Estado.
Após nos atermos em tais reflexões que visam dar uma referencia
explicativa maior da preferência da educação jesuítica pela Corte de El-rei, retornamos ao
seguinte ponto: qual o real sentido de atuação da educação jesuítica no Brasil do século
XVI ? Antes de mais nada, como era o Brasil em sua esfera quinhentista ? Irei aqui
basicamente me referir a vila de São Paulo do Campo, nos limites da mais referencial
capitania do Brasil na época, São Vicente.
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Em seu início não houve uma grande preocupação em atrair colonos e
demais povoadores para o planalto do continente. Foi basicamente a Companhia de Jesus
que tornou possível uma certa estabilidade e continuidade do núcleo povoador
(MARCILIO, 2004: 250) com o colégio tendo a sua atuação referencial. Além disso, a
população era observada como um ponto importante na estratégia do império, pois era
concebida como uma vila de entroncamento, na porta de entrada e saída das duas coroas
(THEODORO & RUIZ, 2004: 98).
Os primeiros dizeres com relação ao número de moradores na pequena vila
vêm das Atas da Câmara, por volta do ano de 1580, com “cem moradores” (A1,
23.05.1584: 237). Depois, o de Fernão Cardim, jesuíta português do período, no ano de
1583, pois afirmava ele que a vila “terá 120 vizinhos, com muita escravaria da terra, não
tem cura, nem outro sacerdote senão os da Companhia”(CARDIM, 1939: 314). Um ano
mais tarde (1584), as próprias Atas voltam a apontar o total de “cem moradores” (A1,
23.05.1584: 237). José de Anchieta, para finalizar essa parte, se volta para o mesmo
número de CARDIM, em 1585: “terá 120 fogos4 de Portugueses” (ANCHIETA, 1933:
423).
Com vistas a tal paralelismo apresentado por Cardim, notamos que tal
população de Piratininga vai tomando uma certa proporção em relação as demais e ,em
1589 (AI, 01.05.1589) havia aumentado “o número de casas e moradores”( MARCILIO,
2004: 251). Com isso, a Câmara informava que já existia no ano de 1591 por volta de “
150 moradores” (A1 01.01.1591: 440/441), “aumentando assim de gente como de
rendimentos dos dízimos e direitos de sua majestade”. No ano de 1606, essa quantia vai
para “190 moradores” (A2 : 500, 13.01.1606), com uma certa proporção de “65
homisiados”5 (A1 13.01. 1606: 500) e no ano de 1637 (R2, 31.12.1637) , havia mais de
“600 habitantes” (R2, 31.12.1637: 4), o que tende a dar força a uma vila para que se
firmasse como lugar de poder Real no Brasil. Tais dados são extraídos, em sua maioria,
da documentação expedida pela Câmara da vila. Teria também uma afirmação a mais de
acordo com o Padre MONTOYA ( 1639, v5), algo em torno de 1.500 habitantes em 1640.
Isso nos deixa entrever crescimento demográfico e uma certa importância a ser observada
quanto ao social, pois isso diz respeito ao fazer-se paulista nos séculos XVI e XVII e no
que São Paulo tende a gerar de interesses ao mundo ibérico. São dados que nos qualificam
para tentar imaginar o vir a ser colônia àquela época.
Aliado a tais dispositivos demográficos em que visualizamos tal época,
vamos ao encontro dos meios em que as viagens se faziam pelas navegações ainda
incipientes, o notório sentido de um isolamento do território frente a metrópole e a real
distância que a envolvia com a colônia, o processo comercial envolvendo a localidade, o
difícil manejo com a mão de obra escrava e isso tudo aliado a guerras e temores.
Dois anos após a fusão das vilas, de Santo André da Borda do Campo e a
vila de São Paulo do Campo, as Atas vêm a nos dizer que: “requereu o procurador do
conselho que se acabassem os muros e baluartes”, serviço dividido entre vários moradores
que acompanhados de “seus (índios) acabaram de fazer e cobrir o baluarte que esta atrás
da casa que mora João Luiz”(AI, 05/11/1562: 16). A construção, como se pode notar da
leitura dessa ata, deve ter tido seu início lá pelas alturas de 1560 e prosseguiu até 1563,
pois já em reunião do Concelho da Câmara em fevereiro, resolveram “(...) na dita câmara
pelo procurador do conselho Salvador Pires que mandassem suas mercês cobrir a guarita
que estava para trás do muro e mais acabar e cobrir as cercas e o que fosse necessário
(...)” ( AI, 1/02/1563: 21) e era necessário homens para a defesa pois “(...) estávamos
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esperando por guerra (...)”(AI, 1/02/1563: 22). Manter a vila protegida era importante. Ou
reformar ou “(...) reparar ( AI,10/07/1563: 26) “(...) − “... os muros desta vila,” (AII,
23.06.1590: 402).
Estar em estado de alerta se fazia constante, com toda a vigilância
possível, sendo que “... todo morador desta vila estivesse prestes com suas armas e
mantimentos, para que, sendo necessário, acudam com diligência; e que se levantem os
muros da vila cada um o que lhe couber em seus chãos, e que outrossim estivessem nesta
vila cada semana dez homens com o juiz ... “(AII, 17.03.1590: 390) . Um outro ponto era
não esquecer jamais ao prestar tal segurança de “... alevantar uma guarita que está sobre
as digo porta grande e reparar as cercas...” (AI, 01.02.1564: 38). Tudo tinha que ser bem
observado, pois poderia dar meio dos gentios adentrarem na fortificação e espaços da vila
através das residências onde certas pessoas “ (...) tinham chiqueiros de porcos e casas
para eles arrimados aos muros desta vila que era grande prejuízo para que sucedendo
alguma guerra pelos ditos chiqueiros podiam subir os contrários (...)” (AI, 04/02/1575:
63).
Sejam elas feitas de taipas rústicas, cobertas de sapé, tendo em cada porta
de entrada, por detrás, uma guarita ou até “(...) um forte e tranqueira (...) (AII, 11/04/1590)
abrigo donde uma sentinela pudesse (...) vigiar o caminho do campo por causa dos
gentios( AII, 12/02/1594). E que nesta vila, se mandasse por “guarda e defesa” (AII,
31.03.1590: 392). Tudo isso se tornava opressor para os habitantes que aqui estavam. Não
havia tranqüilidade, fazendo com que sentissem uma “grande opressão” em “haver vigia”.
Era uma intranqüilidade que passavam os que estavam neste estado de guerra, fazendo com
que os homens, indo à guerra, ficassem as “mulheres” (AI, 14.05.1586: 297) e crianças a
cuidar da vila junto a alguns vigias.
porquanto a terra estava de guerra e se temia que havia gente no Paraíba
e Guarimimis e os índios do sertão e que, porquanto, a gente era muita e
quando havia rebate de guerra, as mulheres e filhos dos homens que
vivem fora nos arrabaldes e dos que estavam ausentes, se recolhiam ao
alpendre da igreja e andavam desagasalhados, no que era muito aperto e
desinquietação ... (AI, 16.02.1591: 415)
A primeira coisa que salta aos olhos, diz de forma gritante das ameaças de
toda sorte, que em terras da metrópole ocorriam e que eram difíceis de imaginar. Eram as
vivências das condições da colônia que as criavam: o viver cotidiano era diverso; os
próprios meios de produção da vida eram de difícil aprendizagem, a dificuldade era uma
presença constante para eles. Com os parceiros de aprendizagem da caminhada, o homem
da vila de Piratininga se deparava com a questão da defesa, alimentação, transporte,
habitação, doenças, clima, etc. E no entorno de tudo isso, a mesma estrutura de
organização social, política e religiosa das terras de além-mar. É nesse caminho difícil que
o homem elabora no cotidiano a aprendizagem do modo de viver, como continuar o
trabalho de uma vida, que isto é sempre um recomeçar a viver-aprender. A luta diária pela
sobrevivência é um fenômeno interior e singular da vida de cada um; os princípios se
relativizam no aprender a ser um homem social, dotado de dimensões próprias de
caminhada (BRANDÃO, 1989: 13).
Era nessa vivência de difícil adaptação que o aprender a ser moldava
personagens que tinham voz e vez. Um aprender em que o homem, vivendo pelo trabalho e
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pela consciência em plena natureza, faz do fenômeno vida invenção. Com o tempo ele
aprende a tecer seu próprio modelo e a transformar, de acordo com ele, situações
emergentes, resultando tudo isto numa aprendizagem contínua da sua forma de ser. A
nossa intenção é mostrar o olhar direto veiculado pelo testemunho documental, sem
intermediário, que o homem dá de si mesmo; narrar suas histórias, mostrando os métodos e
meios que utilizaram para sobreviver, em um mundo inóspito e diferente do cotidiano
europeu, para se fazerem culturalmente da terra.
Nesta vila de São Paulo, uma das formas da sobrevivência se faz com
cooptação ou alianças, que se resume em sagacidade. Com isso, a vivência transforma-se
em lutas, certezas, vitórias e, também, queixas, brigas, revoltas, críticas ao poder
institucionalizado, sempre a lembrar a tradição e a singular hierarquia.
Diante disso que podemos nos ate a uma compreensão maior de certos
procedimentos ate radicais enfrentados, principalmente no que tange à execução e castigos
4. De acordo com as normas regias, ou das que constam nas Ordenações, cada capitão
vem a ser um soberano em terras de além-mar, tal a distância de localização envolvendo a
colônia e a metrópole e a real ameaça à vida.
o procurador do conselho tinha por informação que Antônio Raposo, sob
calor de ir buscar suas peças, tinha licença para ir a Ibitirapoa e tinha
comunicado que se ia. (Mas isto) era contra o bem comum da terra
ninguém fosse ao sertão sem licença do Sr. Capitão ... (A1, 20.05.1595:
505)
É sob seus estigmas e em torno a eles que se constitui toda uma vida social
e política da colônia. Isto resultando então num certo modus vivendi ditado sob a forma de
comportamentos, valores, além de costumes.
Com isso vemos que o capitão se torna o homem do dia-a-dia, do existir ,da
presença forte em variados campos por onde se expressa o viver cotidiano: seja no que se
refere a alimentação, defesa, trabalho, moral social, relações ditas sociais, organização e
tudo mais que o cercava. A dependência de muitos a ele acaba gerando certas atitudes de
submissão e passividade.
Acordaram os ditos oficiais e mais pessoas que lhe parecia bem a todos
não haver juiz dos índios por razão de o regimento de Sua Majestade não
dar juiz senão aos índios que os Reverendos Padres descerem novamente
do sertão; que os índios que ora há na terra são moradores e povoadores
da terra ... e portanto lhes parecia bem que os índios estejam debaixo do
capitão da terra e juízes ordinários dela, para lhe fazerem justiça nos
agravos que lhe fizerem, pois até agora assim estiveram e é uso e costume
estarem desta maneira ... e estar esta terra de posse disto há mais de
quarenta anos (A2, 16.01.1600: 70).
Após esse olhar que forma o homem da colônia, na vila de São Paulo do
Campo, voltamos a educação e a qual fica uma pergunta: Como então ensinar latim aos
descendentes desta terra, desse povo, dessa maneira e forma de ser e existir ? De que modo
vem a conviver os homens da terra, os desbravadores, moradores locais, guerreiros, com as
letras e o mundo dos letrados, cânones e toda uma organização social, hierárquica, em que
se molda com a fortaleza da religiosidade? Sendo assim , os homens principais que estão
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nos engenhos , em seus latifúndios ,enviam seus filhos a estudar nos colégios (LEITE,
1938: 82). E além disso uma outra questão principal relativo a esse quadro: o que eles
estudam, ou tendem a estudar de matérias da época ? Segundo o Ratio Studiorum “ divide
o curso de Letras Humanas em três grandes secções , Retórica, Humanidades e
Gramática” (LEITE, 1938: 72), e o ensino primordial de latim. Podemos dizer que os
estudos envolviam os pontos mestres da arte da oratória, erudição, história e costumes dos
povos (civilização), os elementos geométricos de Euclides, Geografia e Esfera. Com isso o
básico da formação de leitores no colégio tinha por caminho as leituras das Letras
Humanas dos “ clássicos, desde Ovídio a Horacio, e desde Demóstenes a Homero. Mas os
mestres de estilo, mais recomendados pelo Ratio , eram Cícero e Virgilio” (LEITE, 1938:
75). Segundo ainda se conta o “ Grego não se estudou no Brasil, no século XVI. Em
compensação , havia o que os Padres classificavam pitorescamente de grega da terra, que
era a língua dos índios. E dela fez-se Gramática e ensinou-se no Colégio” (LEITE, 1938:
75).
Mas o que eram propriamente os colégios em terras coloniais? Ou mais que
propriamente, no Brasil? Devido ao que já foi ate visto e observado pelo meio e contexto
vivido, os colégios pareciam viver ilhas de cultura. Ou um universo fora de ordem para o
mundo o qual se constituía. Contudo o que se via era algo basicamente natural para a visão
da época, pois ai se coabitava a força da tradição numa sociedade em que se via
necessitada dos homens das letras.
Para a Corte, o que se tinha ou fazia ser em Portugal era algo que deveria
ser feito ou repetido também no universo da colônia. Contudo, colônia e Metrópole se
diferenciavam na essência de seus propósitos e aqui, não se possuía Corte, mas
basicamente colonos, ou, soldados. Mas então, como coabitava colégio e o meio social
colonial? Aqui visto basicamente da vida na vila de São Paulo do Campo? Podemos
resumir que o colégio espelhava o universo português. Os “mundos” estavam fora do lugar
e o conteúdo, a maneira de ser pedagogicamente, aqui nada diferia.
Os colégios eram possuidores de teólogos e letrados elaborando conceitos e
idéias de definição e interpretação religiosa dos meios por eles vividos em face ao novo.
De formação jesuítica feita no colégio da Companhia, os Teólogos e letrados, tinham por
norte toda a alma de uma religião cristão e católica marcando sua educação, seguindo todo
um tramite do vir a ser, de acordo com a tradição cultural portuguesa. Eram eles a cada dia
que iriam se manifestar sobre o parecer das novas práticas sociais por eles encontradas. O
que ficava lógico era a dimensão de princípios e interesses se interligando fortemente. A
Corte e o colégio possuíam a mesma sintonia de dominação, cultura e poder.
Com isso basicamente sendo feito, o religioso tendeu a se operar
culturalmente não apenas no imediato religioso da vida , porem também no mundo que o
cercava, seja no jurídico, ético, moral, econômico ou administrativo. A educação
perpassava as entranhas do colégio e do mundo que o habitava para marcar rumos de
domínio e poder assim expressos.
Em carta a seu sócio, Pedro de Góis escreve (1545):
Para estes dois engenhos, bento Deus, tenho gente e o mais que lhe
pertence, que é canas, planto agora. E querendo nosso Senhor, da feitura
desta a ano e meio poderei, Deus querendo, mandar um par de mil
arrobas de açúcar nosso destes engenhos, e daí pera diante mais. Nisto eu
porei toda a diligência que puder e Deus porá a haver tudo. Isto
determino ao presente e nestes empenhos ficamos todos ocupados ao
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presente como Jorge Martins lhe lá dirá; e podem ser feitos querendo
Deus antes de um ano ... (Apud DIAS, 1924: 262, 2)
Em carta de 1550 a El-Rei, Pedro Borges, ouvidor-geral, referindo-se aos
tabeliães de Porto Seguro e Ilhéus, diz que não tinham nenhum regimento e serviam sem
juramento e:
porque isto é uma pública ladroíce e grande malícia, por que cuidavam
que lhe(s) não haviam de tomar nunca conta − viviam sem lei nem
conheciam superior − procedo contra eles porque me pareceu pecado no
Espírito Santo passar por isto. (ib. 268, 2).
Tomé de Sousa, falando do provável naufrágio de uma nau que mandara a
Pernambuco em busca de mantimento, escreve que (...) prazerá a Deus que não será
perdida e, se o for, que os levará todos ao paraíso, pois iam em serviço de Deus e de
Vossa Alteza. (ib. 361, 2).
Enfim, a função educacional do colégio aparece aqui com evidência e
clareza em tais discursos. Ele era um desses veículos de transmissão e assimilação da
cultura portuguesa do século XVI. A sua presença fora de vital importância para que a
educação, fé e Império se combinassem pela esfera do domínio e do poder tanto na
colônia, como na Corte. A essência de uma tradição, de uma cultura, seria imaculada caso
o discurso da formação jesuítica se vingasse nas novas práticas da vida cotidiana do
homem moderno. Contudo, com o passar dos tempos, o mundo social que nos cerca vai se
transformando. As idéias políticas modernas, aliadas a economia, dão um novo tom aos
discursos de poder e a religiosidade se entretém mais em sua maneira formal de ser, se
abastecendo de sua própria particularidade e identidade.
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1 Professor Doutor substituto do Departamento de Educação
2 SAHLINS, Marshall. (1990: 63), numa forma de mostrar como a história é ordenada culturalmente de
maneiras diferentes nas diversas sociedades, vemos que existe possibilidade de relatar a estrutura social
portuguesa quinhentista. Diz ele que “ a história seja muito mais que os feitos dos grandes homens. Ela é
sempre e em todo o lugar a vida das comunidades, mas precisamente nessas nações heróicas orei e a
condição de possibilidade de existência da comunidade”.
3 Código referente as Atas e Registros da Câmara da vila de São Paulo do Campo e seus respectivos
volumes:AI, A2, A3, R1, R2, R3.
4 Esse termo também pode ser considerado aqui como residência de uma família; lar, casa (dicionário
FERREIRA, A. B. H , 1986: 792)
5 Para TAUNAY (20003: 452) tal expressão vem a significar em seus estudos sobre São Paulo, os escondidos
e refugiados da justiça, que para essas localidades se deslocava como colonos.

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